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04 de Novembro, 2025

FESTIVAL FILARMONIA AO MAIS ALTO NIVEL

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Hoje em dia é muito pouco frequente ouvirmos música que nos surpreenda pela sua novidade e qualidade. No entanto, quem esteve no Auditório do Europarque em Santa Maria da Feira no dia 25, ter-se-á espantado ao escutar o repertório das bandas ali em concerto, pela simples razão de todas elas executarem um programa apelativo onde complexas subtilezas musicais foram a dominância de grande parte do concerto. Banda de Música Sociedade Musical de Arcos de Valdevez, Filarmónica Ressurreição de Mira e Banda Fórum- Filarmónica Portuguesa, estiveram em palco e foram contempladas com vibrantes e indisfarçáveis aplausos do grande auditório que praticamente encheu e se deliciou com melodias carregadas de força e emoção. A Banda de Música Sociedade Musical de Arcos de Valdevez foi quem iniciou o concerto com uma atuação fulgurante, mostrando ágeis, seguros e impetuosos momentos de virtuosismo de alguns elementos. Mas foi sobretudo surpreendente o seu conjunto, sem deslizes técnicos audíveis, pautados pela recriação de uma sonoridade equilibrada que deslumbrou nos vários registos de som. Alguns “pianos” ouviram-se imaculados como murmúrios de antigas melodias que despertaram na alma um sentimento subtil e incontrolável. O maestro Gil Magalhães foi uma força inesgotável de energia que imprimiu e misturou fulgor com sobriedade, elevando o som à esfera apoteótica do milagre da música. Só algumas bandas filarmónicas conseguem fazer da arte dos sons um aconchego, uma espécie de marulhar de águas que provoca encantamento e vislumbre nos ouvintes. A Filarmónica Ressurreição de Mira foi uma surpresa diferente pela média de idades dos seus músicos. Quem viu tanta juventude entrar em palco, certamente não imaginaria que daqueles instrumentos fluiria música de tanta qualidade. Tantos jovens, tanta alegria misturada em elegância e frescura que sustenta o adorno dos olhares na alegria de tocar. Esta filarmónica jovem levou ao palco uma interpretação bem conseguida valendo-lhe entusiasmados e sufocantes aplausos com maior destaque para duas meninas que ultrapassaram todas as expectativas quando em solos de trompete elevaram o “Pasodoble” ao prazer maior e a uma paixão que tornam este género de música sempre apelativo e aliciante e preferido por tantos melómanos e até por um público que de música nada sabe. Sendo a formação de músicos o objetivo principal desta filarmónica, o que nós ouvimos foi algo de excelente e de incrível só possível com um trabalho de rigor e bem estruturado. Certamente que há responsáveis e os louros vão para a direção e para o seu maestro Jorge Paulo Margaça. A sua condução artística foi sem mácula, irrepreensível que deu vida às partituras e os jovens músicos souberam corresponder como bons profissionais. Depois do intervalo veio a surpresa ainda maior com a entrada dos músicos da Banda Fórum- Filarmónica Portuguesa. De todos os cantos da sala surgiram músicos a tocar de forma despretensiosa um tema bem popular a que facilmente o auditório se congregou em palmas e sorrisos rasgados de espanto. Uma entrada algo incaracterística e singular que agradou a todos. Esta banda surgiu pela internet onde os vários elementos se conheceram e organizaram. A ideia proliferou e animou músicos dos vários quadrantes do país e teve o apoio inexcedível da empresa Cardoso & Conceição que patrocinou e ajudou a concretizar um sonho glorioso. E o sonho se transformou em realidade. E a banda cresceu de forma tão sui generis quanto apostada numa qualidade irrefutável com provas dadas no país e no estrangeiro. Alguns temas soaram simplicistas ou ingénuos, libertada por alguns movimentos musicais embalados por tons quentes e envolventes. Parabéns ao maestro Afonso Alves que soube congregar universos sonoros de várias proveniências, revelando traços de insuspeitada ousadia. Este foi sem dúvida o maior festival de música filarmónica do país conhecido por “Filarmonia ao Mais Alto Nível” tendo como palco uma das maiores e melhores salas do nosso território. As filarmónicas portuguesas só têm que agradecer a uma figura incontornável que tudo tem feito para que as nossas bandas ocupem um espaço de destaque na cultura portuguesa. Rendemo-nos e homenageamos Mário Cardoso que com o seu espírito altruísta e aureolado pela centelha da música tem consagrado parte da sua vida à música e aos músicos filarmónicos. Prof. Adérito Silveira aderito.silveira@hotmail.com